Seu olhar era mais atrevido do que suas palavras, porque corria o corpo e invadia a trama do tecido, do vestido fino de algodão. Era tão forte, penetrante que fazia escorrer aquela lágrima de suor pela espinha, e ia assim, arrepiando a pele, fazendo corar sem dizer uma só palavra. Os pés se enroscavam e queriam sair em disparada. Mas o corpo desobedecia, e paralisado só sentia. Era sempre assim. Aquele olhar era como lâmina. E então o pensamento cobria a imaginação. Já tinhas tantas memórias dessa troca hipinótica, frequência de dizer e esperar, que podia se perder na vastidão de seus silêncios. Até o dia em que, de fato, quando a espinha sentiu escorrer da nuca, e se viu dentro dos olhos daquele olhar, refletida, seus pés saíram do chão, mas não foi para correr, eles estavam vivendo a melhor cena que sua imaginação pode trazer em pensamento desde o dia em que aquele olhar atrevido a despiu do tecido de algodão.
O que foi deixado do lado de fora já não tem tanta importância assim. É mais árduo o que está do lado de dentro. Isso sim, é importante.
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