Ah, eu adorava aquele caipira. Nem sei bem ao certo o porquê, ou em quê tanto ele me atraia. Mas que eu gostava, gostava. Muito. De tudo. O jeito de andar, falar, olhar.
Ah, o olhar. Ele dizia pra mim que existiam duas maneiras de se olhar, e me olhava como quem apenas enxerga. E de repente aquele olhar pequeno crescia da sua íris colorida castanha, me envolvia mais e mais e era quase impossível desviar o olhar dele. Isso me dava um arrepio. Sabe desses caipiras que as vezes chegam a ser carcamanos? Ele era assim.
Batia o pé de fininho no chão, como quando a gente sinaliza insatisfação, e era, por eu não estar perto dele o tempo todo. Engraçado, eu achava graça de verdade. Pensava ”como alguém tão metropolitana pode se deixar levar e ficar com alguém assim?” Mas era justamente isso, essa diferença a toa que fazia sentido. O jeito despreocupado com as avaliações alheias dele me desligava também de todo o resto. Quando me beijou pela primeira vez, foi como se eu estivesse descobrindo outras sensações. E quando me teve pela primeira vez, foi como eu sempre tivesse sido sua e ele meu, a vida toda. Sintonia absoluta. Por um tempo foi assim. Totalmente intenso. Sabe daquelas histórias que parecem saídas de um conto romântico?
Corríamos nus pela casa, brincando, nos escondendo um do outro, de vez em quando a luz de velas, passávamos a madrugada inteira, permitindo fantasiar, percorrendo nosso corpos como quiséssemos e por quanto tempo quiséssemos. Imagina aquele amor que chega a ser necessário. Sabe daquele que a gente não fica sem nem um minuto? Daquele amor que a gente se diverte tanto que não consegue ficar emburrada? Desses. Que saudade do caipira.
O que foi deixado do lado de fora já não tem tanta importância assim. É mais árduo o que está do lado de dentro. Isso sim, é importante.
setembro 28, 2009
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