fevereiro 09, 2010

Retrato dela



Se descobriu ingênua. Muito ingênua. A tal ponto de acreditar que já havia deixado de ser. 


Certa vez ouviu...


- "Não tome atitudes apenas para contrariar a opinião dos outros."


No entanto, pensou também que atitudes podem ser tomadas apenas para não decepcionar os outros.
Sentiu-se tão desprotegida, que já não sabia mais como existir.
Nada daquilo era sua essência. 
Nem a malicia absoluta , nem a ingenuidade estampada. Nada.
Onde então diabos estaria a sua vida? Como poderia saber de si, reconhecer-se.
Ela era aquele corpo. Rosto de feição tranquila, coração destemperado, perdido, sorriso calmo e olhar profundo. Misteriosa até para ela mesma. E por dentro, como era?
Nem ela mesmo podia descrever. Um pouco de tudo talvez.
Frágil, impulsiva, ansiosa, tímida, alegre, sonhadora, teimosa, terna.
O que mais sabia encontrar, era a inesgotável vontade de ter.
Ter prazer. Até mesmo quando não pensava, ainda assim sentia.
Incessante fonte de sensações, sonhos e fantasias, misto de  desejos ardentes. Sempre.
Por isso mesmo que tanto se retraia.
Transitar entre o possível e o impossível.
O pecado da luxuria é ter. E gostar de ter. Mesmo quer  seja eternamente figurativo.
Dias passam , meses, e anos intermináveis transformam sua vida.
Segredos guardados, desejos sufocados, fragilidade exposta.
Ingenuidade e malicia, permanecem desconfigurando sua vida, que ela agora descobriu não lhe pertencer.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, há gente cujo seu encontrar é o ter. E há gente cujo seu encontrar é o por pra perder.
Cada um com suas obsessões masoquistas inúteis...
Você pode me responder qual dos dois DEUS disse que é o mais certo?
Quanto a descobrir que a vida não lhe pertence, é de fato coisa muito dura de ouvir e de aceitar, principalmente vindo de outro. De fato.

Marihê disse...

Se perder naquilo que os outros enxergam é muito mais comum do que se imagina. Não há certo nem errado em descobertas. Nem mesmo para esse tipo de constatação. O que fica é a tentaiva de convivencia passiva com os gostos e contra-gostos para vida que vivemos. Apenas vez por outra transbordamos. Para o possível e para o impossível.
Porque o impossível dura o tempo exato até ser realizado.

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