janeiro 02, 2011

Um deserto

As vezes  as palavras engasgam. Se tornam como aqueles enormes emaranhados que rolam com o vento pelo deserto.Era tão bonito tudo que li e meus  pensamentos se encheram de inspiração, mas, quando cheguei aqui, já não estavam mais. Nem me pertenciam. Fiquei um tempo sentada só  rememorizando as coisas que senti, ou que pensei sentir. A gente quase não se enxerga  por dentro. Assusta quando escapa o ar. Não é o final do ano ou início de outro calendário que muda as coisas. Que  bobagem. O que muda é o preenchimento, a perpeção, o desejo. O que muda é desabotoar a carne e olhar com alma. Pena que  não seguimos até o final assim. Não quero a eternidade. Quero só a licença  para interpretar a felicidade. Na verdade queria desaprender o amanhã. Perder esse medo e só criar, sem destoar. Queria que o comum fosse realmente assim, vulgar do ponto de vista a se pensar que comum, é apenas e tão somente desejar, querer, viver momentos capazes de nos  trazer aquelas reaçãoes que envergonhados, escondemos. Sorrir a toa, beijar na boca, olhar e trazer, dar as mãos e andar, parar para respirar, sentir o gosto da lágrima e depois de tudo, ainda quer mais. Eu ainda não tenho certeza que só palavras escaparam do deserto. Aliás, não sei  qual era o deserto, se o de dentro ou de fora de mim. Só sei que eram minhas as palavras, também eram meus os sentidos e os pensamentos, que mesmo achando  perdidos e engasgados que estavam aqui, sentados ao meu lado, acompanhando meu silêncio, criando  meu momento.

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