Só um pedacinho. Para salientar a minha estupidez em aceitar a sua ignorância. Para constatar na coluna vergada, pesada, diante de tanta proibição de suposições. E depois de sabido das bobagens que afastam as mentiras mais gostosas de se ouvir, continuar sem dizer nada. Fazer as malas em excesso de tons. Tons de músicas banais, de poemas sem sal, de angustia e euforia. Só um pedacinho. Rascunhos. Ah, sim! Ainda me lembro de quando naquele abraço, pernas cruzadas as voltas do seu quadril, a sensação incondicional de liberdade registrada num sorriso tão largo, quanto o jardim que eu via, dentro do quarto estreito. Só um pedacinho de nós. Um pedacinho entre a estupidez e a ignorância.
O que foi deixado do lado de fora já não tem tanta importância assim. É mais árduo o que está do lado de dentro. Isso sim, é importante.
março 30, 2011
março 28, 2011
Silenciosamente
Sempre dói. Mesmo quando transparece não doer, dói. Uma disputa sem rumo. Uma premiação desvantajosa. Mas que vive numa constante, talvez uma defesa inconsciente. Ou não. Talvez totalmente consciente. De que importa se não chegarmos a lugar algum? Nem juntos, tampouco sozinhos. Entre olhares e pensamentos guardados, masturbações poéticas, cruéis, sem a menor resilência, uma farsa. Do outro lado essa displicência enfadonha, tanto quanto mentirosa. Ah, sim! De vez em quando acredita-se não ter sentido, não ter querido, não ter sequer buscado, ainda que por um só segundo, de forma contrária ao que a frágil inocência nos permite viver.E ao que tudo pensa caber a ti, quase tudo de fato cabe. Mas só a parte que lhe incomoda, porque, dela, está a tua alma despida, aquela que não se convence, só sofre. E sofre por culpa tua. E isso sempre dói. Dói como se nunca mais pudesse estancar, dói como se nunca mais pudesse cicatrizar, dói como se nunca mais pudéssemos ter. Enquanto os dias passam, a semântica diz que dói. Silenciosamente.
março 23, 2011
VETADO
Há dias em que gostaria de me ver e sentir completamente ordinária de mim. Sem pudor ou considerações que apenas mutilam o que é naturalmente bom. O prazer. Prazer de sentir, de querer, de consumir. O cheiro, o gosto, alimentar os olhos com o que mais tarde vai ser guardado para o longo dos dias no meu mural de segredos Ah! como gostaria de ter você agora. Eu seria como uma personagem qualquer desses contos que alguns acreditam ser indecente, embora na verdade sejam simplesmente verdadeiros, pouco poupado em termos descritos, mas tão pulsantes na carne. Ah! como adoraria vestir-me de ti. Abraçar, misturar-me no teus poros, transpirar minha boca no teu corpo. Queria dizer-me tua. Muda nos instantes que nos separam, cega nos encontros que nos surpreendem. Ordinária. Invejavelmente ordinária
março 19, 2011
Confessionário
Não tive coragem de dizer. Me senti culpada. Talvez pela covardia ardida de já me condenar pelos princípios dos quais em nem sei bem se compartilho e aceito.
O pecado existe quando se pensa, deseja ou realiza?
E para quem regrou os tais princípios, os experimentou a troca de sabe-los?
Se o que importa é a alma, porque o corpo paga pelas contradições nesses castigos?
Não quis desejar a tua ideia, nem teus dias, imaginei só a tua pele, a tua massa. Perdão. Exagerei quando pensei em te sentir muitas vezes. Não nos dias, só nas horas, algumas delas. Quem dera, horas silenciosas, de frases inteiras apenas com movimentos completos.
Confesso, minha culpa cresce. E quanto mais ela cresce maior é o meu arrepio, minha sede.
Meu cigarro te desenha.
Meu cálice me condena e o que não confesso, me respira.
Ranhuras
As sinto quando passo a mão pelas lembranças da sala do pensar. Quando caminhando entre as mobilias, revivo seus detalhes, imagens que compuseram lindos cenários, nos meus dias. Gavetas ainda com aromas papel de bala, frascos de perfumes vazios, petálas já desidratadas, coisas que representaram muito.
E, aquela fotografia quase desbotada. Por alguns instantes meu peito e olhar congelaram. Nesta sala do pensar, o silêncio é quase obceno.Quando atravesso essa sala, sinto saudade. Sinto falta, na verdade falta e saudade, sempre. Daquela mobilia tua, sobre o piso da minha sala, do quarto, da casa. Nas paredes, só as ranhuras. As minhas, as tuas.
março 14, 2011
Guerrilha
Se vier a mim, que seja como quem se obstina.
Se vier a mim, que sua decisão seja forte como seu desejo.
Se vier a mim, ao me sentir em ti, tenha pulso para comandar o sangue, calor para aquecer o corpo e certeza, para não ficar no vazio.
Se vier a mim, que seja lépido e certeiro, reconheça com perspicácia e aja com astúcia de um homem.
Se vier a mim, me olhe nos olhos, derrube meus muros, asfalte meus caminhos, me torne sua.
Se vier a mim, não me sinta como só uma amante.
Se vier a mim, se encontre. Junte-se.
Se vier a mim, não desafie mais do que se impõe
Se vier a mim, venha nú.
Selvagem.
março 13, 2011
Seu título, em segredo
Da língua, os círculos dentro da boca, que misturam a saliva com as palavras e, cabe ao corpo dizer das sensações que os pensamentos definem, quando no teu abraço, me contrai. Só o silêncio blinda os ouvidos. Nem há muito mais o que dizer, porque tudo é imenso, espremido num único desejo de explodir. Guarde este pequeno trecho como sendo seu. Seu instante de cruel verdade. Meu maior momento diante dessa memória que me alimenta de você, ainda que eu não tenha fome, apenas necessidade de comer, é quando as línguas trancadas, secas, desviaram para os olhos um olhar só meu.
março 07, 2011
Tantas coisas
Acredito em tantas coisas. Acredito até na existência vazia de não se acreditar. Aliás, pensando bem, o que existe na verdade é o que acreditamos ver,ter,sentir. Quando isso passa, a verdade também passa. Não,não vira mentira, apenas passa. Nasce outra em seu lugar. As vezes leio coisas que me incendeiam. Mas são minhas, somente minhas as verdades que acredito, até nas vazias. Minhas próprias verdades vazias. Viver algo que não é seu é como brincar com fantasmas. Fantasmas são companhias vazias, e eu acredito nelas também. Acredito em tantas coisas.
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