janeiro 29, 2012

Silêncio

Era o teu olhar. Descompassou o meu. Seguido daquele silêncio que faz caber quase tudo num instante. Eu achei tão lindo. Depois vi o sorriso que fez meus lábios tremerem. E outra vez o silêncio. Senti o calor da tua pele colando na minha, a pressão das tuas mãos determinando sobre as minhas, e o silêncio também. Senti o teu gosto, teu gozo, teu infinito em mim, tudo, no silêncio outra vez. E o silêncio hoje é apenas o silêncio. A loucura do vazio, a insensatez do tudo. O silencio está hoje sem você.  Buscando os sons que nos faltam.

Aflição

Ainda em desespero de livrar-se da vontade, do pensamento que persegue o que já não alcança mais. Aliás, não se alcançou jamais. Sentiu ardendo nas veias, na secura da boca, no envolvimento, na fantasia do momento e só. Abre e fecha os olhos. Inspira e expira, às vezes transpira. Não arrasta nem atravessa, fica. Pede em nome de qualquer força que seja maior que a ausência, que supra o  peso do orgulho e finalmente desfaça esse desespero de querer não querer.

janeiro 20, 2012

Sede


Há latência no corpo. Sede para saciar.Arrancar da pele o suor, sentir o sal  na língua e rastrear os poros, busca incessante pelo caminho da  transformação. Do lado do avesso, no centro, transparecendo, refletindo  no cristal do olhar, os lábios entreabertos, as mãos se apertam, escorregam pés, costelas. A nuca transpira.Sons que não se traduzem, movimentos. Tudo se completa devagar. Expressão, única  ainda que de muitas iguais, não se misturam, não se copiam. Sede.

Num daqueles dias

Num daqueles dias que a gente não se cabe. Num dia daqueles em que o abraço é o afago. Num dia daqueles que o beijo fica longo, arrepia; que os olhos teimam em ver tudo pelo lado lânguido, e o corpo não rejeita esse capricho. Num  daqueles  dias que a fusão, vem arfante. Rendição. Num daqueles dias, que é tão necessária  quanto absoluta a tua voz na minha nuca.

janeiro 07, 2012

Sem pedras

Se aconchego no peito as marcas dos desprezos é porque da vida, só sei viver o que sinto. Se alinhavo e descosturo dos teus braços os beijos, nos abraços o chamego e depois a cama vazia , é porque ainda não me livrei do teu peso.O tempo que  varre o chão, dançando as musicas que já nem ouço mais, são passagens, lugar pra viajar e voltar.Um dia não vai existir, dissolverá. E então no peito só se verá um coração, sem pedras.

janeiro 04, 2012

Cerne

Ela vinha. Acho que foi depois daquele último cigarro queimar entre seus dedos. Alternava com os passos equilibrados no salto fino e os goles etílicos, no copo que segurava com a  mão direita. Ordenar voz, palavras e pensamentos ficava distante do esforço que podia fazer. Só dizia. E disse tanto, que quase não restou  verdade pra continuar. Sem nenhum critério de pudor entre o que amava e odiava, queria e evitava, disse. Não que lhe faltasse consciência. Isso é como  se desculpam. Sobrava-lhe  realidade. Lavou a alma. Misturava riso, sorriso e lágrimas, mas tudo era de uma razão só. Falou sobre alma, tesão, coragem, ousadia, medo, solidão, afeto, lembrança, desejo, e no final, antes de desfalecer pelo cansaço do desabafo, suspirou  longamente enquanto seus olhos, pesados, venciam a claridade da manhã.

Bem querer

Talvez eu me despeça. Ensaie um adeus, ou quem sabe ainda simplesmente continue caminhando. Talvez eu jamais saia do lugar comum, das pieguices de dizer e sentir, transformar em carinho, toque e olhar, o que alguns afirmam viver em felicidade. Mas talvez eu faça isso tudo com alguém, numa troca improvisada. Dai, talvez eu fique, sinta, ou quem sabe ainda simplesmente viva um  bem-querer.

janeiro 03, 2012

Regurgitar

Era o gelado da alma no brilho dos olhos vista da linha horizontal. Da agonia ao luto de não encontrar a parte que falta; a mão que segura  na voz que conduz. O Sentir. Sem o colo dos teus braços e nua, sem pressão, temperatura. Regurgitei sonhos. Segui vaga, vazia, ecoada em ti. Presente desfeito de vida, angústia crescente de paladar amargo. É isso. Não há núcleo na ausência. É a minha permanência que sobrevive ao teu veneno. Guarda. Que tivemos bêbados, encantados. 

janeiro 01, 2012

Descoberta

Sentiu todos os músculos se retorcerem. Sentiu a aproximação, o disparo no peito, a ardência da saliva.  Pensou que ainda continuaria assim.  Seu pensamento buscou a lógica para o contrário dos seus sentidos. Reverso do que esperava sentir. Sem lógica, sem continuação. Era só um ponto comum, ou simplesmente o vazio. Significado desacorrentado. Nenhum luxo, nenhuma luxúria, nenhum propósito. Desconfiou ter partido, e que seus pensamentos eram, agora, apenas resposta ao esquecimento.

Instigante... é sobre desvendar o perigo imaginar o gosto  o poder da persuasão ao movimentar o corpo  pulsar, trocar de lado, de ato, sobre...