Certo tempo na minha vida eu conheci um homem, enquanto ainda era um menino. Só fui me dar conta disso agora, tantos anos depois. Mas é assim mesmo, a gente as vezes leva uma vida inteira para saber, perceber coisas e pessoas. De vez em quando a descoberta é boa, de vez em quando não. Mas, certo mesmo, é que mesmo ainda sendo um menino, tinha tanta audácia de si, que simplesmente agia. Era um menino que se transformaria num homem, um dos mais ousados que já vi, se não, o único. Engraçado como a lealdade nos dá estranheza, soa como ofensa, humilhação, qualquer coisa entre o inadmissível e o verdadeiro. Ele nunca se escondeu. Eu achava que não valia nada, hoje penso exatamente ao contrário. É, já diziam que o tempo é o senhor da razão. Nunca assisti de tão perto, a ponto de viver uma paixão que pudesse transpor qualquer pudor, qualquer covardia, qualquer coisa de qualquer coisa que pudesse proibir de sentir. Engraçado que eu duvidava disso até bem pouco tempo. Acho que foi ele que despertou em mim essa intensidade e que carrego até agora. Vivemos como dois amantes. Brincamos, brigamos, sorrimos e o melhor, nos permitimos ser um do outro. Criamos vida, não geramos uma, vivemos as nossas, juntos. Não o teria de volta, já passaram muitos horizontes desde então. Ainda nos falamos vez por outra. Eu continuo, e acho até que é de fato reciproco, dizendo que o amo, mas não como foi. Hoje eu o amo diferente. Não amo os resultados que conquistou, amo sua autenticidade, sua coragem, sua entrega, sua auto estima. E quanto mais eu vivo e observo, mais eu assisto um processo inverso. Conheço homens que ainda são apenas meninos.