Estava ali com o corpo ainda respingado da água do chuveiro,os cabelos molhados pesados d'água, escorriam e morriam na beirada da toalha que envolvida seu corpo.
Sentada na ponta da cama, tinha o pensamento tão longe que quase levitava.
De alguns momentos ela lembrava e, assim ia passando para outros.
Mas alguns ela recordava. E isso era diferente. Recordar era sentir outra vez.
Nesses, aperta a mão no colo do peito como se pudesse alcançar. Na verdade ainda não se sabia se para prender ainda mais, ou para arranca-lo de uma vez..
Era estranho.Estava tão distante e ao mesmo tempo ainda tão vivo. Como podia ser?
As vezes ela queria acreditar tanto que ao abrir os olhos num dia qualquer, desses que a gente nem espera nada e então vem. Num desses, dias que surpreende, pudesse talvez, ler um recado, ouvir a voz .
O telefone ficava adormecido. O nome dele passava por seus pensamentos.
O armário aberto, as roupas expostas e ela ali. Ali não. Lá. Sentia saudade, vontade, e orgulho.
Maldito orgulho.Porque era assim? Queria tanto fazer o que seu desejo soprava.
Difícil bastante sentir e raciocinar, atitudes isoladas.
Pareceu-lhe então que o melhor era algo que não a atormentasse.
Escolheu o vestido preto. Básico,discreto, apático, inexpressivo, comum.
Esticou bem , e prendeu os cabelos ainda molhados, num rabo de cavalo corriqueiro.
Se olhou no espelho, esboçou ar de impossibilidade e aceitação. Calçou as sandálias e, deu um longo suspiro. Então caminhou até a porta. Antes, apanhou a bolsa. Também preta de alças curtas, e muitas aberturas de ziperes e bolsos. Num deles, puxou um espelhinho, olhou bem dentro dos seus olhos , viu neles o reflexo daquele que jamais deixou de estar, abriu um sorriso discreto, quase que interior.
Ainda é assim. Todos os dias, há muitos dias. Ela sempre o vê. Dentro do bolso que ela devolveu o espelhinho, tinha também um lenço vermelho. Peça que pra ela simboliza a brasa sob as cinzas, que ela guardava, reservada, debaixo do vestido preto.